Madeira, vinhos e uma história que atravessa séculos (com um rosé surpreendente no final)
- Francisco ByMyGlass
- Apr 9
- 3 min read
Quando pensamos na Madeira, é fácil lembrar-nos das paisagens de cortar a respiração, das levadas, das ponchas e daquele clima que nos faz querer ficar para sempre. Mas há muito mais nesta ilha do que só turismo. Há história. Há vinho. Muito vinho. E dos bons!
Tudo começou lá atrás, no século XV, quando os portugueses chegaram à Madeira. O Infante Dom Henrique teve a brilhante ideia de plantar aqui as primeiras vinhas — não por acaso, claro. A ideia era abastecer as naus que paravam na ilha a caminho do novo mundo. As primeiras castas? Vieram da Grécia, escolhidas a dedo por serem resistentes às intempéries típicas das ilhas.
Ao longo dos séculos XVI e XVII, o vinho da Madeira começou a ganhar fama lá fora. América, Europa… todos queriam provar aquele vinho fortificado que, curiosamente, não se estragava mesmo depois de longas viagens em condições bem adversas. O calor, o balanço dos barcos, tudo isso acabou por “ajudar” no processo de envelhecimento, dando origem a um vinho com um perfil oxidativo muito particular.
Foi esse acaso feliz que deu origem a um dos vinhos mais únicos do mundo.
Depois, chegaram as castas que hoje são a alma do vinho da Madeira: Tinta Negra (a mais plantada de todas), Sercial (ou Esgana-Cão, no continente), Verdelho (que já aparece em registos desde os primórdios do povoamento da Madeira e dos Açores), Boal (a famosa Malvasia Fina no continente), Malvasia Cândida (também conhecida por Arinto do Dão), e a nobre e raríssima Terrantez (ou Folgasão), de onde se diz: “As uvas da Casta Terrantez, não as comas nem as dês, para vinho Deus as fez.”
No século XVIII, o Vinho da Madeira já brilhava nas cortes europeias e era presença habitual em celebrações históricas — incluindo a assinatura da Declaração de Independência dos EUA. Sim, esse vinho viajou e conquistou o mundo!
O seu processo de produção é igualmente especial: além da fortificação, o Vinho da Madeira passa por um processo chamado estufagem (ou canteiro, em versões mais premium), onde é aquecido lentamente, simulando as antigas viagens de barco. Este detalhe faz com que o vinho ganhe aquela complexidade e longevidade que o tornam lendário.
Mas… nem só de vinho fortificado vive a Madeira.
Apesar de os vinhos tranquilos (ou seja, não fortificados) não fazerem parte da tradição ancestral da ilha, nos últimos 30 anos têm vindo a ganhar espaço e qualidade.
A partir dos anos 90, os produtores começaram a investir mais nesta vertente, respondendo à crescente procura por vinhos mais leves e gastronómicos. Com técnicas modernas, novas castas (como Syrah, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Aragonês, etc.) e um aproveitamento inteligente do terroir madeirense — solo vulcânico, encostas íngremes, brisas atlânticas — começaram a surgir vinhos tranquilos com identidade própria.
E é aqui que entra o vinho de que vos trago hoje.
Resultado de um projeto incrível do António Maçanita, que se juntou ao amigo de longa data Nuno Faria para mostrar o verdadeiro potencial da Madeira e do Porto Santo, nesta nova era dos vinhos tranquilos, o Rosé dos Villões deixa muita gente de queixo caído!
Este rosé é 100% Tinta Negra, feito com uvas de vinhas com cerca de 40 anos — metade da zona sul da ilha, metade da zona norte. Não passou por madeira, estagiou apenas 6 meses sobre borras, o que lhe confere uma complexidade deliciosa, sem nunca perder a frescura.
Cor pálida, ao estilo provençal, nariz intenso com notas vegetais e fruta vermelha, mas sem aquela doçura chata. Na boca é crocante, com uma acidez marcante e um toque salino que nos faz salivar por mais. Um verdadeiro rosé de mesa, daqueles que pedem bons petiscos e bons amigos à volta.
A Madeira continua a surpreender — com paisagens, com história… e com vinhos que merecem cada gole!
Com um desejo de bons vinhos,
FFG

Comments